terça-feira, 17 de agosto de 2010

A incapacidade especulativa dos portugueses

Escrito por Eudoro de Sousa








Introdução

Ligados à génese d'O Problema da Filosofia Portuguesa, estão dois artigos de Eudoro de Sousa, vindos a lume no Diário Popular, mais particularmente no início de 1943. Um outro artigo viera também a lume no ano seguinte, no propósito, aliás, de uma generosa e séria recensão às teses filosóficas de Álvaro Ribeiro. Não seriam, porém, os únicos escritos a pôr a tónica sobre a eventual viabilidade de uma tradição filosófica portuguesa, já que Sant'Anna Dionísio, em A Não-Cooperação da Inteligência Ibérica na Criação da Ciência (1941), também manifestara as suas perplexidades sobre o carácter idiossincrático dos ibéricos para a actividade solícita, firme e desinteressada da especulação científico-filosófica.

Logo, para Sant'Anna Dionísio a questão centrar-se-ia essencialmente na «carência de uma tradição de pensamento especulativo», e não tanto, como diria Eudoro de Sousa, numa crónica incapacidade dos Portugueses para, concreta e dialecticamente, contribuírem para o pensamento filosófico universal. E isto porque, no caso de Sant'Anna Dionísio, a carência transitória daquela tradição passaria mais por circunstâncias e dificuldades agressivas do meio do que, propriamente, pelas imposições de índole humoral do ibérico. A sua tese distinguia-se, portanto, da tese sociológica de Antero de Quental, para quem a apatia peninsular dever-se-ia a fatalidades exteriores – religiosas, políticas ou económicas -, e não tanto a factores intrínsecos ao homem ibérico.

Daí a afirmação peremptória de Sant'Anna Dionísio: «Em essência todos os povos são iguais. (…) Não acreditemos, pois, que sobre nós pesa uma invencível incapacidade». Assim, não perfilhando a tese do pobre Portugalório de Antero, Sant'Anna Dionísio propunha a abertura de uma atmosfera de pensamento livre que não passasse nem pela ciência feita e dogmática, nem pelas «refracções intelectuais do donjuanismo». Ora, por «donjuanismo» entendia o filósofo portuense «toda a expressão de incapacidade de aceitação de uma “limitação”, tarefa ou “destino”», visto que:

«Em grande número, as mais prometedoras inteligências hispânicas falham devido à inepta e dispersiva existência dos que a possuem. Se a cada momento vemos desaparecer individualidades que, depois de desempenharem com brilho altas funções de cultura, em cujo exercício deram provas de possuírem brilhantes dons, nada deixaram, no entanto, como testemunho perdurável de inteligência, isso se deve ao "infantilismo" da sua maneira de viver. Tais homens nada realizaram de duradoiro porque lhes faltou a dedicação firme a um assunto. Frequentaram com prestígio os congressos, cumpriram com brilho as suas tarefas oficiais, pronunciaram com académico entono as suas orações de sapiência – e vinte anos volvidos sobre a sua morte estão literalmente diluídos na vala comum do esquecimento (…) Em duas palavras: a ciência nos círculos universitários hispânicos, bastante mais do que em outros meios, é um ganha-pão ou um aparato mundano: não é uma sincera e discreta preocupação do espírito».



António Quadros



Por outro lado, perante «a igualdade virtual dos povos», de que nos fala Sant'Anna Dionísio, convém lembrar ter Álvaro Ribeiro dito, quando entrevistado por António Quadros (corria então o ano de 1957), que o universal concreto é recebido pelo espaço e pelo tempo. E mais disse, para bom entendedor: «Ora repare que até os irmãos são diferentes». Quer dizer: actualmente, todas as limitações técnicas e artificiais impostas pelo universalismo abstracto, resultam precisamente daquilo que já Eudoro de Sousa afirmava ser, por via da lógica formal, o «esvaziamento do conteúdo concreto dos conceitos de «povo» e de «humanidade».


Consequentemente, para que se dê, entre nós, a autêntica e progressiva concreção do nacional, e assim, nele e por ele, possamos reconhecer o que seja o universal enquanto movimento para o uno, não basta, no dizer do filólogo e do filósofo luso-brasileiro, projectar «no futuro uma possibilidade, erroneamente apreendida como realidade». Isto é: não basta dizer que uma coisa é possível, porque, como o próprio adianta, de tudo se pode dizer que é possível conquanto não haja contradição em termos de lógica puramente formal. Logo, sem uma tradição situada, é possível, no mínimo, testemunhar fé no futuro, mas não mais do que isso, já que o domínio do subjectivo, por si só, não realiza, ou sequer mesmo põe em acto as virtudes latentes do povo português.

Não há, enfim, contradição real e conceptual entre nacionalidade e universalidade. Eudoro de Sousa, melhor do que ninguém, sabia-o. E por isso mesmo, também sabia que, não obstante o condicionalismo erudito e parasitário das instituições universitárias dominantes, existe, por virtude própria, todo o Génio de um povo apto a realizar o universal concreto.

Miguel Bruno Duarte





A incapacidade especulativa dos portugueses

Publicado a 3.1.1943, no Diário Popular


Que até hoje não tenha surgido na cultura portuguesa o equivalente lógico e metafisico do génio que, em sublimidade, se revela na epopeia marítima dos séculos XV e XVI e, em beleza, numa lírica perene; isto é, que o génio português não tem expressão filosófica – parece facto incontestável. Mais condestável é a afirmação de que tal se deva a uma radical incapacidade especulativa dos portugueses. Contudo, seria erróneo supor que a declarada incapacidade apenas serve para encobrir o vácuo de ilusões perdidas; neste caso, pelo contrário, provêm os testemunhos directos precisamente daqueles que, entre nós, mais funda consciência tiveram dessa actividade autónoma do espírito a que se chama filosofia. Nem poderia deixar de ser assim: quem nunca soube do verdadeiro carácter da especulação lógica e metafísica, inclina-se, por força do próprio engano, a considerar como filosófica qualquer actividade mental sobre temas filosóficos; e como a actividade mental, seja ela qual for, aparece sempre onde quer que haja homens inteligentes e uma atmosfera de «ideias» capaz de lhes alimentar curiosidades e interesses, nunca o intelectual proclamará a ruína dum edifício de noções e a inconsistência dum encadeamento de juízos a que, desde a adolescência até à morte, se habituou a chamar e a ouvir chamar… filosofia! Por isso, só quem uma vez tenha sido filosoficamente consciente, só aqueles, cujo pensamento uma vez tenha atingido o «momento» especulativo, para logo volver a outra forma de consciência – Arte ou Religião – sabem o que significa a incapacidade especulativa dos portugueses; e esses sabem que a ilusória segurança do intelectual é outro índice de fatalidade que eles mesmos sofrem, mais como representantes da raça do que como indivíduos da espécie.

Não se julgue, porém, que o pensador português se resigna ao constatar a morte dos germes filosóficos. Na maioria dos casos, se não em todos, facilmente se persuadirá de que o não-ter-sido ontem e não-ser-ainda hoje, poderá vir a ser amanhã. E quando não sabe a quem atribuir a culpa, atribui-la-á ao condicionalismo histórico ou à influência do meio, cedendo assim à mais anti-filosófica das opiniões comuns.



Rio Tejo, visto da Torre de Belém



É verdade que a Universidade portuguesa não tem uma faculdade de filosofia; que as faculdades de letras não têm um curso especializado de filosofia; que nem alunos nem professores, fazem leitura dos originais dos grandes filósofos gregos e alemães; que, à falta de traduções portuguesas directas, estamos sujeitos aos desvios das traduções francesas; que, ao lado das sociedades e instituições destinadas a promover o progresso das ciências e o gosto pelas artes, nenhuma existe que à filosofia dedique, quando mais não seja, a… «boa-vontade», e que os «grupos» formados pelos raros homens de cada geração, movidos por um interesse autêntico pela especulação filosófica, não tardam em dispersar em todos os sentidos das pessoais divergências. Também é verdade que não há em Portugal uma só revista da especialidade: que não se publica um livro sequer, cujo interesse exceda o didáctico e o escolar; que até ensaístas de valor não receiam escrever os maiores dislates acerca de filósofos menos prezados por uma falsa tradição. Nem é menos verdadeiro que haja no nosso país poetas e críticos da poesia que afirmam a incompatibilidade entre o pensamento filosófico e a criação artística; e, enfim, que não tem o povo inculto mais acarinhadora noção da filosofia, pois filosofia, na sua linguagem, mede a distância que vai do «sonho» descuidoso à pérfida «realidade», ou designa a sabedoria da «vida» que ensina a encarar com indiferença a desgraça e as contrariedades da existência quotidiana.

Também se argumentou que o livre-pensamento fora sempre combatido pelas instituições eclesiásticas e políticas; que os Jesuítas e a Inquisição exerceram uma influência adversa ao desenvolvimento dos germes filosóficos; menos compreensível, neste caso, é que em Portugal não tenha sucedido o que noutros países sucedeu: que dentro da ortodoxia, ao lado duma teologia e duma jurisprudência, também florescesse um pensamento filosófico de interesse universal.

Tudo isto é certo. Mais certo, todavia, é que nada disto pode ser causa da incapacidade lusitana, porque é já efeito da mesma incapacidade. Quem atribui às condições adversas do passado e do presente a inflexão afilosófica do próprio pensamento, ilude a verdade que não ousa exprimir; e se, num momento mais audacioso, chega a superar a própria ilusão, logo se retrai, procurando na incerteza do futuro, remédio e alívio para a enfermidade e as dores do passado e do presente. Tão humilhante se lhe afigura o ter de concluir que o génio português não tem expressão filosófica por intrínseca incapacidade especulativa.

– Mas porquê?» – dirá o leitor – «Por que razão, entre os povos que mais contribuíram para o desenvolvimento da cultura, ao português somente foi vedado o acesso à Ideia? Porque não será ele capaz da ascese lógica, necessária ao madurecer de um «momento» dialéctico da universal consciência filosófica? Porque não, se, por outro lado, ele é superiormente dotado para cumprir, ou ter cumprido, uma missão histórica de interesse universal?».



Uma resposta adequada à natureza da pergunta, constituiria evidente desmentido à presumpta incapacidade especulativa, tanto mais que a resposta é talvez daquelas que nem um indivíduo nem uma geração apenas, podem dar, à falta de outros indivíduos e gerações que assim tenham perguntado. Toda a pergunta, quando despida de ironia, é uma espécie de invocação, de conjuração; é um apelo à realidade; e todo o apelo supõe distância e proximidade. Nós, portugueses, não estamos ainda suficientemente distantes da auroral consciência, de que uma simples constatação de «facto» manifesta o despertar. É preciso haver primeiro quem fale da incapacidade especulativa dos portugueses, quem afirme que é Portugal «o país mais anti-filosófico do Planeta»; depois virá quem diga: «Pois bem! Admitindo que o português tenha sido incapaz de especulação filosófica, que seja Portugal o país mais anti-filosófico do Planeta, que significa isso?» Não imagine o leitor que a consciência portuguesa haja atingido este último estádio, preliminar da autêntica inquirição. Neste caso, ainda se prefere à dedução uma indução que só ficará completa no termo longínquo da história da Nacionalidade… No entanto, nós cremos que, se o pensador-filósofo português demorasse na interrogação da própria recusa em admitir a deficiência lógica e metafísica dos portugueses, se desocultasse a intimidade da repulsa perante a sentença que ele próprio lavrou, – assim entraria de amanhecer a verdade; a verdade que é a nossa verdade; aquela que nos acordes da lira poética é como uma verdade sonhada, e que, na simpática vibração da alma popular, é como verdade esquecida. Esta verdade não a recearia talvez o pensador-filósofo lusitano, se um vulgar prejuízo sobre a natureza do carácter não obstasse compreender e avaliar as últimas consequências da tese que a medo enunciou. A falta de um elemento no complexo de qualidades somáticas e psíquicas e de forças espirituais, que denominamos carácter, não significa necessariamente disformidade, deficiência, negação ou menos-ser; pois os elementos característicos dum indivíduo ou dum povo, não se justapõem à maneira de peças mecânicas, para formar a unidade fisionómica do vivente. A falta, que num dos casos é disformidade, é noutro conformidade; o que na máquina é defeito, no vivente é perfeição. Qual seja a perfeição, a essencial positividade, abundância, que, no génio português, se traduz em defeito e penúria de especulação filosófica – eis o problema cuja solução propomos ao leitor que, ao exaltar o Génio da Raça, prefira a visão autêntica à comparação precária.


Publicado a 4.2.1943, no Diário Popular

No Diário Popular de 3 de Janeiro, traçámos sob o mesmo título, uma sinuosa linha de considerações, mais ao menos cingente ao perfil orográfico do pensamento português, e afirmámos que nunca o Génio luso teve expressão filosófica, por intrínseca incapacidade especulativa dos portugueses». Mas não era propriamente esta afirmação o alvo longínquo que visávamos; a «incapacidade especulativa dos portugueses» constituía apenas um ponto de vista, do qual seria atingível a terra-mãe do autêntico espírito lusitano.

Verificámos, entretanto, que nunca chega a demasiado insistir sobre o que mais importa; que nunca a insistência foi tão necessária – sobretudo numa época, como a presente, em que a «cultura» interpõe tão densa e obscura névoa de incompreensão entre os conceitos e as palavras que os significam. A degenerescência da linguagem é o mais grave sintoma da dissolução e da desagregação que ameaça as mais altas formas de consciência; e tão dissolvente é a «cultura» do nosso tempo que as palavras já não servem para significar isso que objectivamente significam mas aquilo que subjectivamente se quer dizer. Por isso insistimos, explicando – se não esclarecendo – o significado de algumas palavras que empregamos no artigo precedente, e o motivo de uma abstenção que nos pareceu justificada. Insistimos, mais uma vez, porque a indiferença de noções tais como eventual e necessária, possível e real, universal e abstracto, pode deixar num vazio de indeterminação o sentido próprio da tese que enunciámos.

Biblioteca do Convento de Mafra


Se, ao argumentar a nossa tese, não desenrolámos pormenorizadamente a crónica dos escritores de língua portuguesa ou latina, que a História situa em todas as épocas, desde a Fundação da Nacionalidade até aos nossos dias; se, para enunciar a referida tese, não esperámos os resultados de futuros inquéritos e inventários das obras ainda desconhecidas e que, por fortuna, existem nas bibliotecas públicas e privadas de todo o país; se não tirámos a média valorativa do conteúdo de tantos documentos e monumentos – assim nos abstivemos, por se nos afigurar inútil a menção de mais um sintoma de incapacidade especulativa entre tantos outros a que efectivamente aludimos.

Efectivamente, se, do ponto de vista histórico-literário, muito importa a existência de obras cujo conteúdo se exprime mediante vocabulário filosófico, do ponto de vista especulativo a existência de tais escritos só interessa quando estes constituam, na sua sucessão, «momentos» ou estádios dum desenvolvimento ou progresso da consciência filosófica. Neste caso, a história da filosofia coincide com a própria filosofia, considerada no seu desenvolvimento «cronológico». Mas se à ordem «crónica» não for possível sobrepor a ordem «lógica», a existência daquelas obras é pura eventualidade inassimilável pela razão.

Acaso será preciso indicar a cada passo o que há de irrazoável no que é meramente eventual?

De ordinário, a falsa inferência de necessidade na desarticulada eventualidade do passado projecta no futuro uma possibilidade, erroneamente apreendida como realidade. Assim acontece, por exemplo, quando se fala no «poder ser» do que não é nem foi. Neste caso, porém, é preciso não esquecer que o «possível» é um predicado que não define nem caracteriza o «objecto», mas apenas determina a relação dele com a nossa expectativa; que é portanto subjectivo. Para que uma coisa seja possível, basta que não se contradiga formalmente; mas, por isso mesmo, de tudo se pode dizer… que é possível! Por conseguinte, quem confia num futuro, feito de possibilidade, testemunha fé, mas não dá uma razão.



Como a palavra «possível», também a palavra «universal» se presta a um vulgar equívoco. Correntemente, parece designar a indefinida repetição do mesmo «abstracto», ou uma abstracção que indefinidamente se vai derramando por toda a superfície multiforme do concreto; e, neste sentido, pode, na verdade, excluir a «abstracta» representação do «particular». Aplicando o paralelo ao caso dos povos, uma oposição entre «cosmopolita» e «nacional», pode velar o sentido da palavra «universo». Todos estão de acordo em que a filosofia é universal; mas de que, também seja nacional, só discordam os que laboram naquele equívoco: a confusa representação de uma «universalidade» instintiva da «abstracção».

Humana abstracção é, por exemplo, aquilo a que todo o homem é comum, mas será verdadeiramente universal este comum-humano?

Humana abstracção é, também, aquilo que abismalmente separa um povo dos outros povos, mas será esse abismo um carácter distintivo da verdadeira nacionalidade?

E já agora perguntamos: ao invés do que certo tipo de «cultura», de há tempos vem divulgando, não será precisamente esse tipo de cultura que desnacionaliza, por esvaziamento do conteúdo concreto dos conceitos de «povo» e de «humanidade», isto é, por abstracção? Pelo contrário, não será a filosofia que nacionaliza, reintegrando progressivamente o concreto conteúdo do conceito de «povo» no mais concreto conceito de «humano»? E não será autêntica universalização esta progressiva concreção do nacional?

Estamos certos de que, a estas perguntas, responderá afirmativamente o leitor que rememore o sentido da palavra «universal», e que nele reconheça o sentido de «movimento para o uno», não por exclusão das diferenças concretas, mas sim por uma progressiva assimilação espiritual que as não aniquila.

Que «universalidade» e «nacionalidade», longe de mutuamente se excluírem antes se conjugam harmoniosamente, no concreto desenvolvimento da consciência filosófica – é o que parece, de certo modo, confirmado num frequente sucesso da vida mental portuguesa.






Há, com efeito, e sempre houve, quem vá buscar ao estrangeiro uma teoria, de que se faça a prática em Portugal; há, e sempre houve, quem se sujeite durante algum tempo ao ensino duma escola filosófica, ou de mestres iniciadores de novas doutrinas especulativas, e que, dominado por natural e compreensível proselitismo, pretenda elevar a mentalidade portuguesa ao nível desses ensinamentos e doutrinas. No entanto, quantas vezes foi tentado o trânsito de uma doutrina filosófica, do estrangeiro para Portugal, tantas foram as tentativas feitas sem êxito nem popularidade, não obstante o valor intrínseco dos trabalhos e o mérito indiscutível dos trabalhadores. Claro índice de que, não germinando as teorias do próprio solo, os seus frutos não continham semente que viesse a fecundar a terra generosa; sinal evidente que «universalidade» e «nacionalidade» só, como abstractas, se contradizem.

E, para terminar, repetimos:

A «incapacidade especulativa dos portugueses» significa que nunca o Génio português teve expressão filosófica; e o não ter tido expressão filosófica significa que, na sucessão crónica dos pensadores, é impossível considerar um desenvolvimento ou progresso da consciência filosófica lusitana; ou que a múltipla existência de escritos filosóficos não é integrável numa tradição presente, viva e «actual» em cada «momento» dum processo histórico. Digamos também que a invocação da «possibilidade» futura é uma perturbadora inferência da «subjectividade»; e, finalmente, que a reconhecida «universalidade» da filosofia não é contraditória de «nacionalidade» – pois «nacionalidade», neste caso, significaria precisamente a expressão filosófica do Génio de um povo.


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