sábado, 23 de julho de 2011

«Ele há-de vir»

Escrito por António Correia de Oliveira





Ninguém teve, neste mundo,
Amor assim, tão profundo,
Como teve o Rei Soldado,
Trovão de Alcácer Quibir
Desejado, antes de vir;
Depois de ir, mais desejado.

E lá foi! Quem viu? Aonde?
Vivo, ou morto? Onde se esconde?
Ilha? Névoa?... Apenas isto.
Em vão, lá em cima, esperado
Na Corte de Jesus Cristo.

- «Ele há-de vir...» - E reboa,
Tudo reza, ou chama, à toa,
De eco em eco, esta palavra,
Seja o pão, abrindo à mesa;
Seja, ao lar, fogueira acesa;
Seja a terra a quem a lavra.

Sim! há-de vir. Mas, primeiro,
É preciso o Nevoeiro,
E a névoa é água a cismar;
As brumas da sua vinda
São lágrimas; e ainda
As fontes correm ao mar.

(De Hora Incerta, Pátria Certa, Lisboa, S.N.I., 1948).


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